Ali estava eu, perdido no deserto, sem carro, sem água, sem comida…apenas os últimos três cigarros que me restavam do maço de tabaco. Caminhava sem rumo, á procura de algo, algo diferente, algo espectacular, algo exótico. Queria tanto ver algo acontecer, que nada acontecia, apenas vento, areia e calor. «Já estou a ficar um pouco afectado com o calor, temos de arranjar sombra» disse eu, para alguém que me interessava muito, que lá estava comigo, no meio dos tons amarelos e laranjas. O meu precioso advogado viera comigo nesta trip, neste estado de pureza e solidão, onde o que não morre reina. «E se parássemos para descansar naquela sombra ali, debaixo da rocha?» Eu olhei, e vi uma gruta, com ar seco e fresco, onde possíveis vidas foram salvas e onde o meio ambiente não é afectado pelo sol, ou pela chuva. «Meu, preciso mesmo de me ir sentar, isto está-me a começar a bater» já sentia o suor a escorrer pelos braços e a cair pelos dedos. Caminhamos, e a gruta estava lá, bem ao longe, tão longe que nem a luz do sol conseguia lá chegar. Pelo caminho deparava-me com situações estranhas, as vibrações estavam pesadas e negativas, algo de perigoso assustava-me. «Esta sauna já está a dar cabo de mim, talvez fosse melhor atirar-me para as dunas, sentar-me e descansar um bocadinho» pensei para mim mesmo. Se havia sítio capaz de destruir uma vida em pouco tempo, este era um. «Não sejas parvo, estamos quase a chegar» mas a verdade, é que não estávamos. Estaríamos a ter algum tipo de visão turva, que nos levasse para a morte? Se assim fosse, estaria condenado a morrer por uma simples curiosidade? O cansaço apoderou-se do meu corpo, deixando sensações de sonolência e irritação, as alucinações já não eram só visuais, eram também auditivas.
- Então e essa gruta? Onde anda ela?
- Lá no horizonte, na linha do vento, onde a corrente nos puxa para o sofrimento.
- O que é que estás para aí a dizer? Não me digas essas coisas – falei com algum custo, a minha boca já estava demasiado seca para conseguir falar direito e como cria.
- Relaxa, isso já passa e é só poesia, não pares de andar, segue em frente.
Olhei em frente e…e não vi nada. Nada que não tivesse á espera, sempre a mesma imagem, vezes sem conta a rodar na minha cabeça confusa e alterada. O corpo já termia e sentia calor-frios em todo o corpo. O que seria isto? Seria a desidratação? Ou a fome? As perguntas eram imensas e nunca havia resposta, apenas a melodia da mentira descabida e a omissão da verdade pura. «Tenho tanta sede, já não tenho saliva, preciso de água urgentemente, ou álcool tanto me faz, tira-me desta dor, desta agonia, mata-me agora, deixa-me com os abutres, deixa-me tornar parte deles, deixa a minha alma em paz na terra da morte.» Após este desabafo profundo com o meu advogado, perdi as forças e caí, de joelhos na areia, como se me ajoelhasse perante o Deus da morte, perante o deserto, o ceifador de vidas. Tinha sido derrotado pelo meio ambiente, e enquanto perdia o resto dos sentidos que me restavam consegui fazer uma reflexão, ninguém em estado algum, tem o poder de controlar o corpo e a mente num local como este. Se assim é, questionei-me a razão pela qual eu tinha ido nesta viagem pelo inferno. Qual seria a minha expectativa? Acabei por não conseguir pensar mais, decidi descansar a sabedoria e deixar-me vencer pelo meu rival.